Últimas Notícias.
Seu portal de informações empresariais

Atenção: Ressaltamos que as notícias divulgadas neste site provem de informações oriundas de diversas fontes, não ficando a INFORMARE responsável pelo conteúdo das mesmas.

16/02/2007 - Mudan?a na economia cria incertezas na pol?tica monet?ria, diz Bevilaqua

?A din?mica inflacion?ria brasileira mudou. Sa?mos de um processo inflacion?rio associado a crises externas e estamos entrando num est?gio de economias estabilizadas. Essa mudan?a provoca incertezas que precisam ser observadas na condu??o da pol?tica monet?ria pelo Banco Central.

Esse ? um dos fatores apontados pelo diretor de Pol?tica Monet?ria do BC, Afonso Bevilaqua, para justificar a decis?o da ?ltima reuni?o do Copom de reduzir a taxa de juros em 0,25 ponto percentual e n?o 0,50 como desejava boa parte do governo Lula.

Bevilaqua recha?a a tese defendida por determinados economistas, entre eles alguns tucanos, de que o BC deveria aprofundar a redu??o dos juros, abrindo maior espa?o para aumentar as reservas internacionais e desvalorizar o real, o que daria mais impulso ? economia. "O que falta para fechar [esse] modelo ? a infla??o. Eu n?o vejo como essa combina??o de pol?tica possa ser implementada."

Alvo de press?es de petistas, que desejam v?-lo fora do BC no segundo mandato, o diretor de Pol?tica Monet?ria evita falar sobre seu futuro e procura adotar um tom diplom?tico ao tratar de assuntos do governo. Faz quest?o de elogiar, por exemplo, o PAC por focar no crescimento e aumento do investimento no pa?s.

Em sua opini?o, o pa?s tem condi??es de crescer 4,5% ao ano, apesar de lembrar que a ?ltima estimativa do relat?rio de infla??o do BC, divulgado em dezembro, aponta para uma taxa neste ano de 3,8%.

A seguir, trechos da entrevista concedida por ele na ?ltima quarta-feira, em que disse n?o se incomodar com as cr?ticas ao trabalho do BC:

Folha - A ?ltima ata do Copom fala de infla??o em 2008. Voc?s est?o olhando uma infla??o num horizonte mais longo?
Bevil?qua - Do ponto de vista da tarefa que ? delegada ao Banco Central pelo Conselho Monet?rio Nacional, os pontos a serem observados s?o dezembro de 2007 e dezembro de 2008, quando a infla??o deve ficar em 4,5%, com 2% para mais ou para menos.

Folha - O sr. acha fact?vel crescer 4,5%?
Bevil?qua - Eu acho fact?vel dadas as condi??es da economia. Temos de observar o que acontece ao longo dos pr?ximos anos, n?o h? nenhuma raz?o a priori para que a economia n?o cres?a 4,5%.

Folha - O sr. acha que, com o PAC, houve uma mudan?a de foco da pol?tica econ?mica?
Bevil?qua - Acho que n?o, n?o ? essa minha percep??o, temos hoje uma mudan?a em rela??o ao passado, quando a tarefa fundamental da pol?tica macroecon?mica do curto prazo era estabilizar a economia. Nesses ?ltimos anos, houve uma melhora significativa dos indicadores. A infla??o chegou a registrar mais de 17% em doze meses em maio de 2003, hoje ? pr?xima de 3%, a nossa d?vida externa l?quida ante o PIB era cerca de 36% no final de 2002, agora est? pr?xima de 7%, n?s t?nhamos um estoque de d?vida indexada ao c?mbio que era de cerca de 42% do estoque total, hoje essa d?vida n?o existe mais, as reservas internacionais eram cerca de US$ 16 bilh?es no segundo trimestre de 2003, hoje est?o em mais de US$ 90 bilh?es. Todos esses fatores fizeram com que a economia se tornasse mais resistente a choques, reduziu-se significativamente a vulnerabilidade da economia a fatores fora de controle dos gestores de pol?tica macroecon?mica. ? razo?vel que voc? volte a aten??o para problemas de longo prazo, como faz para aumentar a taxa de crescimento. Nesse sentido a preocupa??o com investimento ? fundamental.

Folha - O que o senhor acha da tese defendida por alguns economistas, inclusive tucanos, de que se deveria acelerar a redu??o dos juros para que se abrisse espa?o para aumentar as reservas internacionais mais fortemente de modo a valorizar o d?lar e ter maior impulso na economia. Essa equa??o ? poss?vel?
Bevilaqua - Falta nessa an?lise, no final das contas, a infla??o. O que falta para fechar o modelo, como se diz no jarg?o dos economistas, ? a infla??o. Mantida a infla??o sob controle ao longo do tempo e evoluindo de acordo com as metas estabelecidas pelo Conselho Monet?rio Nacional eu n?o vejo como essa combina??o de pol?tica possa ser implementada.

Folha - Ela s? pode ser implementada se voc? aceitasse uma infla??o mais alta?
Bevilaqua - Essa combina??o de pol?ticas implicaria que houvesse uma infla??o mais alta, o que n?o estaria de acordo com o que o Conselho Monet?rio Nacional estabeleceu.

Folha - O BC, quando conduziu uma pol?tica monet?ria que levou a uma infla??o baixa, contribuiu para a reelei??o do presidente Lula?
Bevilaqua - Eu n?o sou analista pol?tico. N?o tenho sensibilidade para fazer esse tipo de avalia??o.

Folha - Mas o pr?prio presidente Lula avalia que dois carros chefes da reelei??o foram infla??o baixa e Bolsa Fam?lia em larga escala. Inclusive, a infla??o baixa ajudou esses programas porque valorizou ainda mais aquele dinheiro do programa social. Essa avalia??o ? correta?
Bevilaqua - Infla??o baixa permite que voc? gere mais emprego, ela permite que voc? eleve o rendimento do trabalhador ao longo do tempo.

Folha - A ?ltima decis?o do Copom reduziu a velocidade de queda das taxas de juros. O presidente Lula chamou o ministro Meirelles para pedir explica??es sobre a decis?o tomada pelo BC. Qual a diferen?a entre se fazer um corte de 0,25 e 0,5 ponto percentual?
Bevilaqua - Acho que as raz?es que levaram o comit? a optar por um corte de 0,25 em vez de 0,5 est?o descritas na ata do Copom. O que est? escrito l? se refere a incertezas associadas a mecanismos de transmiss?o da pol?tica monet?ria, riscos para evolu??o da trajet?ria da infla??o no m?dio prazo e a capacidade do BC assegurar que ao longo do tempo a infla??o permanecer? sob controle, contribuindo para um cen?rio favor?vel para acelera??o do crescimento da economia.

Folha - Quando ? poss?vel ter uma no??o clara desse novo mecanismo de transmiss?o da pol?tica monet?ria?
Bevilaqua - Incertezas associadas a mecanismos de transmiss?o da pol?tica monet?ria existem em qualquer economia. No nosso caso, existem incertezas adicionais ligadas ao fato de que estamos hoje num regime de pol?tica monet?ria diferente do regime que n?s tivemos at? alguns poucos anos onde a maior parte da din?mica da infla??o estava associada a crises externas. Voc? tinha uma crise externa, isso gerava um movimento significativo na taxa de c?mbio e levava a press?es inflacion?rias. Desse ponto de vista, a din?mica inflacion?ria do pa?s nesses anos recentes est? se tornando uma din?mica mais parecida com o que voc? v? em outras economias estabilizadas. Ao longo do tempo n?s vamos avaliar de que maneira a economia est? respondendo aos impulsos monet?rios dentro desse quadro novo que n?s temos.

Folha - Muita gente atribuiu a recente oscila??o na taxa de c?mbio ? decis?o do BC de reduzir o ritmo de queda dos juros. O senhor concorda com essa avalia??o?
Bevilaqua - Eu acho que os dados n?o respaldam essa avalia??o. Desde que o Copom tomou a decis?o, que era uma decis?o antecipada pelos ativos financeiros, houve, na verdade, uma redu??o de taxas de juros do mercado.

Folha - Ent?o o diferencial entre juros internos e externos n?o estaria afetando o c?mbio?
Bevilaqua - Esse ? um fator. O outro fator a ser observado ? o que aconteceu com os ativos na economia mundial ap?s a divulga??o do comunicado do Fed, no final de janeiro. A lira turca se apreciou, o peso mexicano se apreciou. Esse movimento continuou essa semana. Se voc? olhar o movimento das principais moedas ao longo da ?ltima ter?a-feira (13/02) voc? vai ver que a lira turca se apreciou mais de 1% em rela??o ao d?lar, o euro, 0,5%, o peso colombiano, alguma coisa como 0,7%, o peso mexicano, algo pr?ximo de 0,8%. Ent?o ? muito dif?cil imaginar que todo esse movimento de aprecia??o de moedas est? ligado ? decis?o tomada pelo Copom.

Folha - O caso da Argentina tem sido usado como contra exemplo ao brasileiro. O pa?s, mesmo depois de um calote na d?vida externa, tem conseguido crescer muito mais que o Brasil. O caso argentino deveria servir de modelo?
Bevilaqua - Do ponto de vista do Brasil o fundamental ? que o pa?s, nos ?ltimos anos, aproveitou as condi??es extremamente benignas da economia mundial para aumentar significativamente a sua capacidade de resistir a choques. Isso vai fazer com que no futuro, quando as condi??es da economia mundial mudem, o Brasil esteja numa situa??o muito melhor do que costumava ficar no passado quando n?s t?nhamos choques externos.

Folha - E a id?ia de um crescimento mais elevado, como o argentino, com uma infla??o tamb?m mais alta e um c?mbio, de certa forma, controlado?
Bevilaqua - Eu acho que a id?ia de infla??o mais alta do que os objetivos estabelecidos pelo Conselho Monet?rio Nacional ?, em geral, uma id?ia muito ruim.

Folha - Por que o Brasil n?o cresce ?s mesmas taxas que os outros pa?ses emergentes, como China, ?ndia, R?ssia?
Bevilaqua - Acho que voc? tem que separar dos emergentes os pa?ses que est?o em est?gios diferentes de desenvolvimento. O Brasil, h? algumas d?cadas, quando tinha o est?gio de desenvolvimento semelhante ao que tem hoje pa?ses que voc? citou, ele crescia a taxas muito mais altas. Quando voc? olha para economias emergentes mais maduras, em geral, voc? v? taxas de crescimento mais baixas do que as da ?ndia e China. N?o h? nenhuma raz?o, a priori, para que o Brasil n?o tenha taxas de crescimento compat?veis com outras economias emergentes maduras.

Folha - Mas a Cor?ia, por exemplo, ? tida como um pa?s que estava num est?gio de desenvolvimento parecido com o do Brasil, at? pior, e num espa?o de tempo relativamente curto conseguiu nos superar. Por que n?o crescemos como a Cor?ia?
Bevilaqua - Eu n?o sou um especialista em cada uma dessas economias que voc? est? mencionando, mas em geral s?o economias que t?m um n?vel de investimento maior que a economia brasileira, um n?vel de poupan?a maior que a economia brasileira e um investimento maior em educa??o e capital humano do que n?s conseguimos ter at? o momento. S?o algumas das explica??es que voc? encontra na literatura t?cnica sobre o assunto.

Folha - O senhor v? riscos no cen?rio externo que possam mudar esse c?u de brigadeiro dos ?ltimos anos?
Bevilaqua - O cen?rio externo nos ?ltimos anos tem sido bastante benigno. A avalia??o corrente sobre 2007 ? que n?o ser? um ano espetacular como 2006, mas provavelmente ser? um bom ano. Agora, mudan?as no cen?rio externo s?o sempre poss?veis. N?s temos visto a? nos ?ltimos anos per?odos de volatilidade em fun??o de decis?es tomadas sobre pol?tica monet?ria nas principais economias. N?s n?o estamos de forma nenhuma livres de que esses per?odos de volatilidade voltem a ocorrer. O fundamental ? que a economia hoje est? muito melhor preparada para mudan?as no cen?rio externo. Agora n?o parece que em 2007 essas mudan?as sejam parte do cen?rio central.

Folha - O presidente Lula fez um discurso depois da divulga??o da ata da ?ltima reuni?o do Copom em que ele afirmou que o pa?s n?o pode ter medo do crescimento da demanda. Na ata da reuni?o, o BC faz refer?ncia ao crescimento robusto da demanda. O senhor interpretou essas declara??es como uma cr?tica ou um recado ao BC?
Bevilaqua - N?o. Eu concordo integralmente com o presidente. Acho que o papel do BC ? exatamente fazer com que n?o se deva temer a evolu??o da demanda agregada e da oferta agregada ao longo do tempo. A confian?a de que o Banco Central vai manter a infla??o sob controle faz com que n?o exista nenhuma raz?o pela qual se deva temer a evolu??o da demanda.

Folha - Mas quando o presidente faz esse discurso n?o est? dizendo que o BC deveria soltar mais os juros para evitar segurar tanto a demanda?
Bevilaqua - N?o, n?o ? essa a minha interpreta??o.

Folha - Qual o PIB potencial brasileiro?
Bevilaqua - Isso a gente vai descobrir ao longo dos anos, ? medida em que n?s crescermos com a infla??o sob controle e o investimento tiver espa?o para se expandir. Eu n?o arriscaria um n?mero.

Folha - O PAC altera essa capacidade de crescimento?
Bevilaqua - A ?nfase no investimento ? bastante importante. Aumentar o investimento ao longo do tempo ? fundamental para que a economia possa crescer mais sem press?es inflacion?rias.

Folha - O senhor espera um crescimento do investimento esse ano?
Bevilaqua - Os dados de investimento t?m mostrado um desempenho bastante bom no per?odo recente. Ao longo de 2006 o investimento tem um crescimento acumulado mais que o dobro do crescimento do produto e n?o h? raz?o nenhuma para imaginar que esse crescimento n?o continue nos pr?ximos trimestres, principalmente se n?s continuarmos tendo as condi??es macroecon?micas que tivemos, a economia est?vel, infla??o convergindo permanentemente para a trajet?ria da meta, pol?tica fiscal comprometida com a sustentabilidade da rela??o d?vida/PIB e o mecanismo de c?mbio flutuante funcionando como tem funcionado.


FONTE: Folha Online

Voltar