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16/07/2019 - Acordo com Mercosul abre oportunidade para todos, diz chefe da UE no Brasil

A chefe interina da delegação da União Europeia no Brasil, Claudia Gintersdorfer, afirmou à Folha que nem o setor agrícola europeu nem segmentos da economia brasileira, como a indústria automobilística, vão perder com o tratado de livre-comércio assinado entre a UE e o Mercosul.

Desde que a Comissão Europeia e os governos de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai chegaram a um acordo, no fim de junho, sindicatos de produtores agrícolas europeustêm se queixado de que a derrubada de barreiras de importação de produtos do Mercosul representa uma ameaça aos agricultores da Europa.

No Brasil, há preocupação das montadoras com a entrada, no futuro, de carros importados mais baratos.“Não é um jogo de soma zero, em que um setor perde e o outro ganha. Acho que abre oportunidades para todos”, diz Gintersdorfer, que é alemã.

Como encarregada de negócios, ela comandará a delegação até a chegada do novo embaixador, o espanhol Ignacio Ybáñez, prevista para as próximas semanas.

Em entrevista na sexta-feira (12), na sede da missão da UE em Brasília, a diplomata disse ainda que o tratado é histórico porque fortalece o multilateralismo e um sistema internacional baseado no “comércio aberto e justo” —valores questionados tanto pelo nacionalismo de Donald Trump nos EUA quanto pelo brexit.

Em linhas gerais, como o acordo vai afetar as relações do Brasil com a União Europeia?

A UE é de longe o primeiro investidor estrangeiro no Brasil. Em termos de comércio, a UE é atualmente o segundo maior parceiro comercial do Brasil e este é o nível em que estamos começando. A partir desse nível, isso vai incrementar. Tanto no comércio quanto em investimentos.

Mas não é só um acordo de livre-comércio, tem uma parte política e de cooperaçãotambém. A parte comercial foi o foco sempre da imprensa, porque foi a parte mais difícil de negociar, mas a parte política tem a sua importância. 

Quais foram os compromissos políticos acertados entre a UE e o Mercosul? 

É muito abrangente, cobre todo o leque do nosso relacionamento e das nossas políticas externas. É, sobretudo, uma questão de intensificar o diálogo, de cooperar também em nível internacional em fóruns multinacionais. 

Então, por exemplo, reafirma o nosso compromisso com os tratados internacionais de direitos humanos.

A mesma coisa para a questão do meio ambiente: reafirma os compromissos internacionais que já temos, como o Acordo de Paris.

governo Bolsonaro tomou medidas polêmicas na diplomacia em temas de direitos humanos. O Itamaraty, por exemplo, instruiu seus diplomatas a não mais usar a expressão gênero. Essas ações não são contraditórias com esses compromissos políticos que constam do acordo? 

É certo que neste governo temos visto mudanças sobre algumas das temáticas dos direitos humanos. 

Mas o Brasil quer continuar no Conselho dos Direitos Humanos [da ONU], eu acho que este é um sinal muito positivo. Porque não está se retirando dessa instância, como foi o caso dos EUA.

Agora, em temas específicos, como a menção ou não da palavra gênero, eu acho que é uma coisa que devemos dialogar.

Tradicionalmente o Brasil tem sido um parceiro muito forte para a UE quanto a valores e apoio aos direitos humanos.

E em relação aos compromissos ambientais? 

Acho que sobre a temática do ambiente, a ministra Tereza Cristina [Agricultura] está muito consciente de que é importante para o Brasil permanecer no Acordo de Paris, porque isso tem um impacto sobre as exportações do Brasil no exterior.

Tem compradores, em muitos países da UE, que vão olhar cuidadosamente se as normas ambientais estão sendo respeitadas ou não. E eu acho que isso é sabido também no Brasil.

Houve manifestações críticas ao tratado vindas do governo da França. A implementação do acordo ainda está sob risco? 

Não temos certeza de nada na vida 100%. Sempre tem algum risco. Mas eu estou confiante, porque o trabalho realizado até aqui pelos nossos negociadores foi impressionante.

Mas produtores e sindicatos agrícolas na Europa têm sido especialmente críticos ao acordo, afirmando que estão ameaçados pela entrada de produtos agropecuários do Mercosul. 

Sempre tem setores mais sensíveis do que outros. Mas a Comissão Europeia [órgão Executivo da UE] tomou todas as disposições para ter certeza de que seja equilibrado. 

Os setores mais sensíveis para nós são bem conhecidos: carne bovina, suína, de aves, açúcar, etanol, arroz e mel. Para eles, nós vamos dar quotas, não é um acesso livre dos produtos do Mercosul, que, claro, são muito competitivos. Por isso, o medo dos agricultores europeus.

Por outro lado, os agricultores europeus ganham vantagens com esse acordo. Há produtos [europeus] que vão ter o acesso muito mais fácil ao Mercosul. Também temos a questão das indicações geográficas. E os procedimentos de exportação vão ser muito menos burocráticos e mais previsíveis.

Então, tudo isso são vantagens para o setor agrícola europeu. Então, acho que não se pode falar que o setor agrícola europeu vai perder, como também não se pode falar que é o setor industrial do Mercosul que vai perder.

Não é um jogo de soma zero, em que um setor perde e o outro ganha. Acho que abre oportunidades para todos.

Aqui no Brasil há uma preocupação do setor automotivo com a entrada, no futuro, de carros europeus mais baratos. 

A avaliação sobre os impactos no setor automotivo aqui corresponde mais ao Brasil. Mas eu gostaria de fazer algumas considerações. É um setor que já conta com um investimento europeu muito importante. E claro que o acordo vai alavancar e estimular ainda mais investimentos, que geram empregos no Brasil.

Por outro lado, esse setor tem um período de transição bastante longo, um total de 15 anos para se preparar.

Se você calcular o tempo que o acordo vai precisar para entrar em vigor, realmente estamos falando de um período importante para o setor aqui se preparar.

O acordo foi visto como um impulso ao Mercosul, que estava bastante questionado. Pede-se algo parecido sobre a UE, que sofreu um baque com o brexit e que se contrapõe ao nacionalismo dos EUA? 

Eu acho que sim, é um acordo muito importante para nós. Deu um sinal de que ainda funciona o sistema internacional no âmbito do comércio, porque nós apostamos nesse sistema de comércio aberto e justo.

FONTE: UOL

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